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Comores, as ilhas perdidas do Índico

Karthala

8 minutos

Se a maior parte das nações insulares índicas alcançaram um status de protagonismo no turismo internacional, o mesmo ainda não aconteceu com a União das Comores (o nome oficial é Union des Comores).

Alguns fatores contribuem para o relativo desconhecimento de Comores no exterior, mas certamente a falta de atrativos naturais não é um deles. Acima, o vulcão Karthala em sua última erupção.

Neste post, contamos um pouco sobre esse destino fascinante e ainda inexplorado.

A história turbulenta das ilhas perfumadas

Comores foi colonizada por povos Bantu da África Oriental, mercadores árabes e austronésios, muito antes da chegada dos portugueses, em 1505. Somente em 1843 tornou-se parte do império colonial francês, dominante nesta região do Índico, o que perdurou até a sua independência como nação, em 1975.

Desde então, sofreu mais de 20 golpes ou tentativas de golpe, com vários chefes de estado assassinados. Além da instabilidade política, apresenta notável desigualdade de renda e baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Em 2008, metade da população vivia abaixo da linha de pobreza.

As ilhas vulcânicas do arquipélago comoriano são chamadas de “ilhas perfumadas” por sua fragrância vegetal: as flores da cananga (Cananga odorata), o produto de exportação local, dão origem ao extrato de ylang-ylang, um insumo muito requisitado na indústria de perfumes.

Conhecidas também pela notável beleza cênica e plantações de baunilha, as quatro ilhas principais do arquipélago – “quatro pequenas pedras efervescentes, encaixadas entre a grande ilha vermelha (Madagascar) e a costa de Moçambique”, nas palavras do escritor comoriano Sitti Saïd Youssouf – combinam influências africanas, árabes, malgaxes e francesas.

A geografia de Comores

A União das Comores é um país insular no oceano Índico, na extremidade norte do Canal de Moçambique, na costa oriental da África. Faz fronteira marítima com Madagascar e Mayotte a sudeste, Tanzânia a noroeste, Moçambique a oeste e Seychelles a nordeste. Sua capital e maior cidade é Moroni.

Comores fica entre Moçambique e Madagascar, ao norte do Canal de Moçambique

A religião da maioria da população e oficial do estado é o islamismo sunita. Membro da Liga Árabe, é o único país do mundo árabe que fica inteiramente no hemisfério sul. Também é um estado membro da União Africana, da Organização Internacional da Francofonia, da Organização para a Cooperação Islâmica e da Comissão do Oceano Índico. O país tem três línguas oficiais: comoriano, francês e árabe.

As quatro ilhas principais do arquipélago das Comores


Com 1.862 km², excluindo a ilha contestada de Mayotte, Comores é a quarta menor nação africana em área. Sua população, sem contar Mayotte, é estimada em 850 mil residentes (2019). O estado soberano consiste em três ilhas principais e várias ilhas menores, todas de origem vulcânica.

Separatismo e independência

As ilhas principais são mais conhecidas por seus nomes franceses: a noroeste, Grande Comore (Ngazidja), Mohéli (Mwali) e Anjouan (Ndzuani). O país também reivindica a quarta grande ilha, Mayotte (Maore), que faz parte do arquipélago, mas não da nação atual. Mayotte votou contra a sua independência da França, em 1974.

Desde esse referendo, Mayotte nunca foi administrada por Comores – e sim pela França. A França vetou as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas que afirmariam a soberania de Comores sobre a ilha. Mayotte tornou-se um departamento ultramarino e uma região da França em 2011, após um referendo aprovado por esmagadora maioria.

Em 1975, as ilhas de Grande Comore, Anjouan e Mohéli se uniram e declararam unilateralmente independência da França. Em 26 de outubro de 1997, mais de 99% dos eleitores de Anjouan votaram a favor da independência de Anjouan, desmembrando a federação comoriana.

No entanto, a votação não foi reconhecida e a ilha voltaria ao controle do governo comoriano em 2001. Um acordo do governo com os separatistas de Anjouan e Mohéli determinou um referendo nacional sobre uma nova constituição federal, reestabelecendo a federação, mas com cada ilha mantendo um elevado grau de autonomia.

Turismo em desenvolvimento

Para quem conhece a estrutura de turismo presente em Seychelles, Mauritius ou Reunião, pode imaginar algo parecido em Comores. Em termos de natureza o potencial é enorme, mas a estrutura de Comores ainda está muito distante dos vizinhos.

A instabilidade política assume grande parte da conta do atraso, mas também transforma Comores em um destino de nicho, perfeito para aventureiros com a carteira recheada e prontos para testemunhar o que poucos já tiveram a oportunidade.

Grande Comore

Grande Comore é a ilha mais diversa e a mais acessível para os viajantes. Na capital, Moroni, a medina (cidade velha) é uma reminiscência de tantas outras na África e no Oriente Médio: desordenada, com belas portas esculpidas, pequenas vielas sinuosas e minaretes aparecendo no horizonte. O porto enche e esvazia com as marés; o ar está sempre perfumado.

Old Friday Mosque, Moroni


A parte sul da Grande Comore é dominada pelo imponente vulcão Karthala (foto inicial), um dos mais ativos do mundo. Seu cume (2.360 metros) parece estar perpetuamente perdido nas nuvens equatoriais. A imperdível escalada tem duração de dois dias (acampamento noturno nas encostas) através de uma densa floresta, antes de chegar às paisagens lunares da cratera.

Resort próximo a Moroni


Já o norte apresenta praias idílicas, palmeiras e grandes baobás. O Dos du Dragon (Costas do Dragão) é uma série de formações rochosas em uma península curva – estranhamente parecida com espinhos imaginários nas costas de um dragão. As melhores vistas ficam do outro lado da baía, perto da Île Aux Tortues.

Le dos du Dragon

Anjouan

Com uma forma triangular distinta, Anjouan é a mais populosa das ilhas Comores. Junto com Mohéli, é o único lugar onde pode-se avistar os ameaçados morcegos frugívoros de Livingstone. Esses gigantes (sua envergadura chega a 1,5 m) vivem em pequenas colônias no alto das montanhas. Moya, no sul da ilha, é a praia mais bonita e acessível.

Vista de Anjouan

Mohéli

A menor e menos populosa das ilhas comorianas possui encostas arborizadas e um enorme parque nacional marinho contornando a costa sul. É um importante local de nidificação de tartarugas, em especial o vilarejo de Itsamia, na ponta sudeste da ilha. Os aldeões costumavam comer as tartarugas, mas agora estão envolvidos no monitoramento científico e as protegem ativamente, estimulando o ecoturismo.

Praia privativa em Mohéli

Além das tartarugas, o céu noturno espetacular de Mohéli nunca sairá da memória dos visitantes, bem como as belas praias, o mergulho com snorkel e os passeios oferecidos nas inúmeras e peculiares ilhotas do parque nacional.

Mayotte

Historica e geograficamente parte do arquipélago, Mayotte também oferece algumas das atrações encontradas nas demais ilhas: os lêmures (sim, eles também estão presentes em Comores), os morcegos, os baobás, as plantações de ylang-ylang e baunilha.

Já o maki, uma espécie de lêmure, é exclusivo da ilha. Bem como o euro (a moeda, não outro animal exótico) e a barreira de corais, que circunda e protege Mayotte, criando a maior lagoa fechada do planeta. Um santuário ecológico que pode ser testemunhado na trilha circular de 100 km.

Vista aérea de Mayotte

Se ainda resta dúvida sobre as atrações de Mayotte, as baleias, as tartarugas, o mergulho, as reservas naturais e o calderão cultural de Dzaoudzi, o povoado principal da ilha, explicam a razão dos poucos visitantes não quererem mais ir embora.

A opinião do especialista ACT

Levando-se em conta que Reunião, um destino consolidado e com toda a estrutura para o turismo, é praticamente desconhecido no Brasil, não é de se estranhar que Comores permaneça distante da realidade e do conhecimento da maioria dos viajantes brasileiros. Exceto alguns sul-africanos exploradores, poucos conhecem o potencial de Comores.

Para os raros privilegiados nacionais que se aventuram às ilhas do Índico, chances maiores recaem na opção da lua de mel no luxo mauriciano ou na exuberância da natureza seychellois – absolutamente compreensível. Mas para um nicho específico, a exceção da exceção, Comores é um destino fascinante e em um momento particular.

A volatilidade política diminuiu, mas ainda é presente. A chance de impactar em uma viagem é praticamente zero. Sem turismo de massa, os valores para chegar às ilhas e se locomover entre elas são salgados. A hospedagem é simples, mas há poucas, simpáticas e boas opções que permitem conforto e atmosfera – obviamente sem comparação com a hotelaria dos vizinhos ricos.

O grande diferencial é justamente a ausência do turismo – por enquanto. Comores é uma experiência autêntica e singular. O acesso aéreo à ilha está mais fácil e regular, com aeronaves de grande porte voando para Moroni. Provavelmente a última chance de visitar as ilhas, antes dos investidores do oriente médio as transformar em algo bem diferente daquilo que são hoje.

O transporte marítimo entre as ilhas é complicado e incerto. Os serviços de balsa são limitados, então a melhor opção é voar. Para quem viaja em grupo, alugar um barco particular é uma ótima escolha. Imagine ter à disposição da sua família um belo iate à vela, que pode acomodar 6 pessoas confortavelmente, em cruzeiros privativos de vários dias.

Comores é um destino para poucos, e a ACT conhece todos os detalhes e segredos para viajar em Comores com exclusividade e pioneirismo, analisando desde a segurança do contexto político às implicações da sazonalidade – tanto nas atividades recreativas como na logística do transporte aéreo, terrestre ou marítimo no arquipélago.

Administrador de empresas (FGV), fundador da Atlantic Connection Travel (1996) e da ACT Afrika Tours & Safaris, operadoras de viagem especializadas em África e Ilhas do Índico, com sedes em São Paulo, Cape Town e Odessa.

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