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Cape to Cairo: a transição para Agulhas – Alexandria

Africa Levasseur

8 minutos

Mesmo antes de pisar pela primeira vez na África, em 1996, muito já havia lido a respeito da épica jornada Cape to Cairo. Adepto das viagens de travessia, esta sempre foi uma das mais clássicas rotas pelo continente africano.

Alguns poucos anos após o sonho de Cecil Rhodes, a unificação das colônias britânicas na África por uma ferrovia deixou de ser uma possibilidade factível, mas o trajeto já começou a ser visto como uma aventura singular, um troféu para quem se dispusesse a desafiar a distância e as dificuldades que se encaixam entre os dois extremos.

No extremo sul, a mágica e multicultural Mother City, a mais antiga cidade da África do Sul e uma das mais belas do planeta. No extremo norte, a maior cidade do continente, metrópole e capital do país que guarda a história da civilização egípcia.

Cape Town e Cairo já trazem, isoladamente, um forte simbolismo. Estão no mesmo continente, mas tão distantes. Separados por savanas, desertos, etnias, culturas, fronteiras e alguns milhares de km.

Sempre tive no pensamento, mesmo já tendo conhecido a maioria das atrações do percurso em viagens anteriores, qual seria a sensação de testemunhar o continente africano se revelando etapa por etapa, até que a soma de todas elas permitisse uma visão contínua, de ponta a ponta.

Ao longo dos anos, li muitos relatos de grandes viajantes que realizaram a travessia. Alguns em expedições em caravanas de veículos 4×4, cheios de adesivos e parafernália, que de alguma forma me davam uma sensação de insensibilidade com os locais. Pareciam-me estar invadindo o continente, ao invés de atravessá-lo com respeito e elegância.

Também li relatos de corajosos que se aventuraram sozinhos, algumas vezes de bicicleta, outras de moto ou até mesmo num velho Fusca. Muitos destes, antes da existência da internet, dos navegadores…ou das melhorias nas estradas mais desafiadoras da região, o que vem acontecendo de forma consistente desde 2010.

Sempre tive enorme admiração e respeito por todos eles. Independente da motivação, do veículo e do sucesso na jornada, todos eles possuem um ponto em comum que os separa dos demais humanos: em um determinado momento, eles simplesmente tomaram a decisão de fazer a travessia, e a partir daí começaram a resolver a longa lista de dificuldades para fazê-lo.

Do simples desejo de executar a travessia à tomada da decisão há um espaço de tempo de amadurecimento da ideia e acúmulo de conhecimento. No meu caso, este processo durou duas décadas. A partir do momento em que tinha um apartamento e veículos apropriados em Cape Town, compreendi que só o que faltava era tomar a decisão.

Em dezembro de 2014, já em Cape Town, tomei a decisão. Partiria para o meu Cape to Cairo particular em maio de 2016. Mas a crise econômica no Brasil me motivou a antecipar para 2015: em um belo dia de março, perguntei-me qual seria o impedimento de partir em maio desse ano. Estava decidido, e assim teria menos de 2 meses para todos os preparativos.

Conhecendo as histórias espetaculares dos heróis da travessia, sabia que a minha tarefa seria infintivamente mais fácil nas condições atuais. Nenhum país da travessia estava em situação de guerra ou guerrilha, nem com instabilidades políticas que saíssem da normalidade do continente africano. As estradas estavam melhorando a cada ano, e o GPS é um milagre da tecnologia feito sob medida para quem decide atravessar a África. Ainda assim, uma tarefa multidisciplinar e complexa.

A partir da minha decisão, eu ganhava um Cape to Cairo só para mim. Não sabia ainda até onde eu chegaria, mas daí em diante, ele passaria a se chamar Agulhas – Alexandria. Assim, de fato, eu começaria a jornada no extremo sul do continente, Cape Agulhas, local exato do encontro entre o Atlântico e o Índico. E terminaria no Mediterrâneo, na lendária cidade do Farol de Alexandria, umas das 7 maravilhas do mundo antigo.

Que a sorte esteja do meu lado.

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Gostou? Este post faz parte do projeto Agulhas – Alexandria, a travessia completa da África do Sul ao Egito, planejada e executada pela Atlantic Connection Travel. Conheça a história completa:
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Administrador de empresas (FGV), fundador da Atlantic Connection Travel (1996) e da ACT Afrika Tours & Safaris, operadoras de viagem especializadas em África e Ilhas do Índico, com sedes em São Paulo, Cape Town e Odessa.

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